Quando acabou
eu não consegui conter as lágrimas. As mesmas brotavam junto com um sentimento
de total impotência perante ao mercantilismo que impera nas redações. Dois
jornalistas, interpretados por Michael Keaton e Mark Rufalo, se abraçam
mentalmente através de olhares orgulhosos provando que o jornalismo utópico
existe.
O ganhador de
melhor filme do Oscar 2016 Spotlight
(Segredos Revelados) retrata a árdua investigação dos repórteres do jornal
Boston Globe sobre um escândalo de padres pedófilos e cumpre muito bem o papel
que o nosso explorado ofício já aposentou junto com as máquinas de escrever. O longa,
que também venceu nas categorias melhor filme e melhor elenco do Critics Choice Awards 2016 é muito mais
que uma produção bem feita, com um roteiro rico e ótimas interpretações: ele
mostra que a profissão de contar histórias e fazer a diferença existe.
Qualquer um
que assista pode considerar um ótimo trabalho, mas para quem já esteve em uma
redação e teve o sonho de mudar o mundo com o seu trabalho é algo tocante. O
envolvimento com a notícia, se identificar onde estão os fatos, o comprometimento
em recontar o que precisa ser revelado, sem dar gancho para audiência ou
patrocínio, mas porque é o que se jura perante todos.
O tocante
envolvimento da equipe, a parceria (de verdade e quase ficção nas redações
atuais) que existe entre os colegas para ser feito o melhor trabalho, a árdua
pesquisa através de documentos, personagens, o empenho em convencer que uma
tragédia pode ser a chance para muitas pessoas, a difícil tarefa em reconhecer que uma pauta que caiu no colo não mereceu a devida atenção. E o principal: tudo baseado em
uma história real.
Quantas vezes
tivemos que lidar com chefes preguiçosos, sem interesse ou que simplesmente não
entendem nada do que fazem? Tudo começa quando Marty Baron, interpretado por
Liev Schreiber, chega para comandar
o jornal de Boston e chama atenção para crimes cometidos pela igreja católica
que passaram batidos na cidade. O caso fica para os repórteres especiais “Spotlight”,
chefiados por Walter Robinson (eterno Birdman, Michael Keaton), Sacha Pfeiffer
(Rachel McAdams), Mike Rezendes (Mark Ruffalo) e Matt Carroll (Brian d'Arcy
James) precisam lidar com a realidade e com as próprias emoções, a velha
história de se envolver com a história, quem nunca sentiu isso não sabe o que é
viver. E a melhor remuneração de
todas: mais de mil vítimas testemunharam após a publicação da matéria e o
escândalo de pedofilia apontou novos nomes e membros da igreja em vários
países.
Este filme
retrata, como há muito não se via, o papel social do jornalismo. Podemos classificá-lo como uma espécie de “Todos os
homens do presidente” mais atual e contra um sistema mais poderoso que
políticos (que é quase o mesmo: a igreja).
Com certeza o jornalismo não morreu e o bom profissional não
é o que tira fotos e vira celebridade, mas o que salva vidas, seja da maneira
que for. Para os sonhadores resta
chorar no final, com o sentimento misto de frustração e de felicidade em saber
que em algum lugar do mundo a notícia ainda é tratada com seriedade e
relevância. E está acima de qualquer interesse comercial ou econômico.